sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


Programa de Redução de Estresse
Baseado na Plena Atenção
(MBSR – Mindfulness Based Stress Reduction)

Estimados amigos:

Estivemos durante 9 dias (26 de novembro a 04 de dezembro) participando do Curso de formación profesional en el programa REBAP/TCBAP, em Montevidéu, Uruguay, 2011, dirigido para pacientes e instrutores (practicum). O curso esteve  sob orientação de Fernando de Torrijos, Director Mindfulness Programs in Psychiatry, MBSR/MBCT, Senior Teacher, Center for Mindfulness University of Massachusetss Medical School, Dept of Psychiatry.

Para o curso de formação de instrutores no MBSR, participaram profissionais de várias áreas, incluindo áreas de saúde, e de vários países latinoamericanos (Uruguai, Chile, Argentina, Colombia, Brasil).

O Programa de Redução de Estresse é um treinamento baseado na prática da Plena Atenção (Mindfulness), inspirado nos ensinamentos budistas da meditação da plena atenção, e desenvolvido pelo Dr. Jon Kabat-Zinn, da Clínica de Redução de Estresse do Centro Médico da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts.

O Programa de Redução de Estresse é um curso de oito aulas, estruturado para ensinar os pacientes com um amplo escopo de condições crônicas como cuidarem de si mesmos e participar totalmente na melhora de sua saúde e qualidade de vida como um complemento dos tratamentos médicos e psicológicos que possam estar recebendo. O Programa de Redução de Estresse Baseado na Plena Atenção está integrado no contexto do atual campo emergente da medicina mente/corpo.

O programa está baseado num treinamento sistemático e intensivo em meditação da plena atenção e exercícios de alongamento com atenção plena (Hatha yoga) e suas aplicações na vida diária, dirigidas para incrementar o relaxamento e a consciência inata, assim como experiências mente/corpo relacionadas com suas principais queixas médicas, emoções e pensamentos e seus efeitos em sintomas, sentimentos de saúde e bem estar, reatividade ao estresse, confronto e sentido global de si mesmo e da relação consigo mesmo.

Pesquisas feitas por instituições médicas e científicas têm evidenciado os benefícios deste treinamento para a saúde humana. Estaremos em breve procurando oferecer as saudáveis contribuições  deste treinamento para o bem de muitos seres.

com metta e amizade

Arthur Shaker
Casa de Dharma - SP



















quarta-feira, 31 de agosto de 2011




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Os meninos e meninas
seus Caminhos de Sonhos, e Rebeldias

Os temores de Flebeca


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quarta-feira, 24 de agosto de 2011




Meditação da Plena Atenção (Mindfulness), Neurociências e Saúde


a Memória e a Meditação da Plena Atenção (Mindfulness)

Zlatica Defarias*


Dedicado ao Dr. Veriano Alexandre, CIREP/USP, Ribeirão Preto.
E a todos aqueles que estão em busca das memórias.


“Evocando as lembranças (e o passado), adicionamos valores de sonho. Nunca somos verdadeiros historiadores; somos sempre um pouco de poetas, e nossa emoção talvez não expresse mais que a poesia perdida”. Gaston Bachelar

Os significados e as funções da memória são construções que nos tem fascinado há anos. Após uma encefalite virótica, em consequência de uma contaminação pelo “aedes aegypti” (dengue), nos levando a experienciar uma “perda” da memória de longa duração (“dura de duas horas, dias ou anos, garantindo o registro do passado autobiográfico e dos conhecimentos do indivíduo, Lent, 2.005) e a privação dos significados do passado autobiográfico por dias, pudemos nos aproximar da poética de Clarice Lispector (1.976) no “Sou composta por urgências: me entupo de ausências, me esvazio de excessos”. Também, nos tornamos próximos do que pesquisadores como Bergson afirmaram há décadas, especialmente no que se refere à ilusão de que só temos uma identidade porque nos lembramos.

E com a gradual progressão em que nossas memórias de longa duração iam sendo resgatadas, pudemos experienciar o que Rosenfield (1.994) concluiu quanto a “nós não nos apoiamos em imagens fixas, mas em recriações - imaginações – pelas quais o passado é remodelado em formas apropriadas para o presente”. O leitor pode reproduzir o quanto de “criações de significados” tivemos que “recriar” para que pudéssemos ter “nossas memórias”? O quanto tivemos que “compor” a partir de representações não advindas das reminiscências de funções corporais, sensações, emoções, percepções, formações mentais (imagens, pensamentos, memórias, etc) e consciências originárias de cada contato corporal e mental que tivemos em nossa história pregressa (com nossos conhecimentos e idéias) e fixadas em uma área cerebral que apresentava algumas disfunções? Mas “compor” a partir de dados não relacionados a essas reminiscências que estariam localizados em outras “redes neurais”? E aproximando-se de pesquisadores como Ledoux, pode se responder, como o fizemos por inúmeras vezes, se deixamos de ser quem somos se perdemos nossa “assinatura neural”?

Pesquisando a etimologia de memória, essa origina-se inicialmente do grego “mnemis”, que dava à esta faculdade da aquisição, consolidação e evocação dos contatos que o corpo e/ou a mente fizessem com algum objeto externo ou interno um halo de divindade, pois referia-se à Deusa Mnemosyne, Mãe das Musas que protegem a história. A significamos, então, como “a capacidade de protegermos nossas estórias e história, as estórias e história do outro, as estórias e história do mundo, e as estórias e história do que vai para além do mundo”. Ou como nos leva a uma inspiração poética Monteiro (2.006), “somos os narradores da história criada por nós, em nós e para nós”.

Posteriormente, no latim erudito, memória origina-se do prefixo “memor” (“a faculdade da memória”) e do genitivo “ôrîs/os” (“boca”). A significamos como “as reminiscências que surgem do corpo e da mente, e se fazem expressar pela boca”.

E nesse nosso tratar de descobrir significados de memória, ainda nos foi possível o surpreender com a etimologia de “recordar”. Originando-se do prefixo “re” (“repetição, retorno”) e do radical “cordis/cor” (“aprender, saber”/“coração”), e tendo sido o coração também considerado como a sede da memória no mundo antigo, vindo posteriormente a ser também a sede das emoções, significamos memória como “as reminiscências que surgem da linguagem do coração”.

Mas e o processo da Meditação da Plena Atenção (Mindfulness), o que sua prática por anos na construção da concentração nos possibilitou nessas semanas e nas fases seguintes a essas?

Fazendo parte de uma das práticas de cultura mental propostas pelo modelo de Psicologia Abhidhamma (modelo teórico, metodológico e técnico cujos tratados filosóficos e psicológicos antigos conhecidos como Abhidhamma/Abhidharma foram compilados desde o séc. V a.C.), a Meditação da Plena Atenção (Mindfulness) consiste de uma prática da atenção e da observação direta dos processos corporais e mentais. Ainda pouco conhecida em nossas terras, fundamenta-se inicialmente no desenvolvimento da concentração (samatha, “o estado mental de se estar firmemente fixado”). “A concentração pode ser definida como aquela faculdade da mente na qual o focamento em um objeto se dá sem interrupção e numa experienciação a mais próxima das consciências advindas do corpo e da mente, enquanto essas se dão” (Gunaratana, 1.995). Após o desenvolvimento da concentração, a ponto da consciência focalizar-se em um único processo corporal (atenção sensorial ou percepção seletiva) ou mental (atenção mental ou cognição seletiva), passa-se ao desenvolvimento da concentração e da plena atenção simultaneamente (vipassana, “a visão clara”; ver claramente, distintamente, diretamente todos os processos que venham a se dar no corpo e na mente), o que nos possibilita a plena atenção não enquanto o resultado de uma mera compreensão intelectual, mas a observação direta de todo e qualquer fenômeno que se dá em nosso próprio corpo e mente. Como Shaker colocou:

“Mindfulness, a meditação da plena atenção e do insight, consiste no treinamento da faculdade mental da atenção, desenvolvendo-a pela prática da observação direta das experiências internas do corpo e da mente de maneira completamente consciente e sem julgamentos. Este treinamento, que envolve igualmente o desenvolvimento da faculdade mental da concentração, permite que a pessoa se posicione à certa distância dos enredos das formações mentais, observando momento a momento o corpo (em seus vários ângulos – como a respiração, batimentos cardíacos, sensações, etc.) e os pensamentos espontâneos do cérebro/mente” (2.010).

Para tal treinamento e desenvolvimento, utilizamos por anos a técnica da “Meditação da Plena Atenção na Respiração” (ânâpânasati, “plena atenção na inspiração e na expiração”). Através da plena atenção a cada inspiração e expiração, é possível observarmos e investigarmos o corpo e a mente. Como afirmou Buddhadâsa Bhikkhu (1.988):

“Quais são os objetos de contemplação apropriados, corretos e necessários a cada instante enquanto inspiramos e expiramos? Aqui são quatro os objetos de contemplação apropriados: os segredos de ‘kâya’ (o corpo), os segredos de ‘vedana’ (as sensações/emoções), os segredos de ‘citta’ (a mente), e os segredos de ‘dhamma’ (a natureza fundamental das coisas). Porque esses quatro objetos já existem dentro de nós e são as raízes de todas as dificuldades e problemas, podemos, então, utilizá-los mais do que a qualquer outro objeto para treinarmos e desenvolvermos a mente”.

Desde iniciarmos tal prática, percebemos o fundamental significado e função da Meditação da Plena Atenção (Mindfulness). Com o gradual desenvolvimento da habilidade de sustentarmos a plena atenção em nossas percepções, de sua originação até sua supressão, nos é possível o desenvolvimento da compreensão dos fenômenos corporais e mentais. É possível, desde seus desencadeamentos a partir das impressões visuais, auditivas, olfativas, gustativas, táteis e mentais, até as consciências de cada estado experienciado pelo corpo e pela mente, percebermos cada vez mais esses processos.

E qual não foi nossa surpresa, assim que a função da memória remota foi sendo recuperada, ao percebermos o papel da plena atenção nos vários processos que experienciávamos.

Por termos alguns treinamentos da habilidade da percepção e do processamento consciente e inconsciente de estados corporais e mentais, percebemos o quanto a plena atenção nos possibilitou condições para que o armazenamento das informações que eram assimiladas através dos sentidos pudesse se dar. É como se o mosaico das percepções que compõem a memória pudesse ser criado não apenas pelas impressões que o corpo e a mente experienciavam a partir do contato com algum objeto externo e/ou interno. A possibilidade da observação direta de algumas das funções corporais, das sensações, das emoções, das percepções, das formações que provem da mente e das consciências, enquanto as experienciávamos, também participava da construção da memória remota. E quanto mais sustentávamos a plena atenção nesses processos, percebemos como maior eram nossos mecanismos de armazenamento de longo prazo. Pudemos nos aproximar de Kandel (2.000), neurocientista que estava em evidência em nossa terra quando do início dessas nossas experienciações, em “o mapa da memória só se mantém estável quando há atenção”.

O leitor já pôde observar como se dão suas percepções do corpo e da mente? Pôde observar o quanto somos “passivos” em nossas percepções? O quanto nossa “plena atenção”, a qual deveria ser uma das condições essenciais a toda e qualquer percepção, não passa de uma atenção a algumas impressões que o corpo e a mente experienciam após cada contato com um objeto externo ou interno? Pôde perceber o quanto somos “relatos parciais de memórias”, como nos aponta Sperling? Ou seja, o quão pouco nossas memórias são constituídas da plena atenção aos nossos processos corporais e mentais? E numa tentativa de tornar poética nossa fala, o quanto somos “cegos de atenção”?

Algumas são as pesquisas e trabalhos desenvolvidos sobre os processos cerebrais produzidos pela Meditação da Plena Atenção (Mindfulness). Em especial, quanto ao aumento da densidade hipocampal (Frewen, P.) e das áreas associadas com a atenção (Brefczynski, L.), e as respostas do córtex pré-frontal (Cheng, R.) e áreas cinguladas (Corrigan, F. M. e Holzel, B.).

Tendo como experienciação a “neuroplasticidade” (a propriedade de “plasticidade” do sistema nervoso – a interrelação existente entre várias regiões cerebrais e o potencial de áreas remanescentes assumirem o controle quando uma região específica for comprometida) e a sua possibilidade de “criação” e de “recriação” a partir das conexões sinápticas, que estudos e pesquisas como o papel ativo da Meditação da Plena Atenção (Mindfulness) na intensificação dos vários mecanismos de armazenamento da memória possam ser um dos objetos de nossa “plena atenção”. E o começo... Experienciar a Meditação da Plena Atenção (Mindfulness).


Referências Bibliográficas

BUDDHADÂSA BHIKKHU . “Mindfulness with Breathing: A Manual for Serious Beginners” Boston: Wisdom Publications, 1.997.
“Dicionário Etimológico Nova Fronteira”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1.986.
GUNARATANA, Venerable Henepola. “Mindfulness in Plain English”. Boston: Wisdom Publications, 1.995.
KENDAL, Eric. “Em Busca da Memória”. São Paulo: Companhia das Letras, 2.002.
LENT, R. “Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência”. São Paulo: Atheneu, 2.005.
MONTEIRO, Pedro. “A Mente e o Significado da Vida”. Belo Horizonte: Gutemberg, 2.006.
NYANATILOKA. “Buddhist Dictionary: Manual oh Buddhist Terms and Doctrines”. Sri Lanka: Buddhist Publication Society, 1.994.
ROSENFIELD, Israel. “A Invenção da Memória: Uma Nova Visão do Cérebro . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1.994.
SHAKER, Arthur. “A Travessia Buddhista da Vida e da Morte: Introdução a uma Antropologia Espiritual”. Rio de Janeiro: Gryphus, 2.003.






*Psicoterapeuta com Especialização em Psicoterapia Clínica do Adulto e do Casal.
Formação em Coreoterapia – terapia do movimento e da dança; Análise

Junguiana e Arteterapia Símbólica; Terapia do Casal; Terapia Familiar.
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CONSULTÓRIO DE PSICOTERAPIA CLÍNICA
zlatica.consultorio@gmail.com
Rua Rodrigues Caldas, 726 s. 1.005 – 30.190-120
Santo Agostinho

Tel.: (31) 3292.7879

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Belo Horizonte – MG

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meditação da Plena Atenção
e Saúde

Curso: inicio 23 Agosto
3as. feiras 19.45 - 22hs
Quinzenal
11 semanas

Saiba mais: Meditação da Plena Atenção e Saúde

Para programação completa acesse: programação completa do curso

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Estimados amigos

Com alegria com o lançamento desse nosso livro infanto-juvenil, Por dentro do Escuro, inspirado na sabedoria da cultura mítica do povo Xavante das Aldeias de Pimentel Barbosa e Etenhitiripá, MT, convidamos para esse encontro na FELIT (Feira do Livro InfantoJuvenil) em São Bernardo do Campo.

14 agosto, domingo,17 hs
Sejam benvindos
abraços

Arthur Shaker




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quinta-feira, 23 de junho de 2011


Meditação da Plena Atenção (Mindfulness),  Neurociências e Saúde:

abrindo perspectivas

Dr. Arthur Shaker Fauzi Eid
(PhD - Unicamp)
Casa de Dharma – SP


Este texto traz reflexões sobre as interfaces entre a Meditação da Plena Atenção (Mindfulness), as Neurociências e a Psicologia no campo da Saúde, a partir dos frutos dos cursos, de mesmo nome, iniciados em setembro de 2010, na Casa de Dharma, com duração de um ano, desenvolvido em equipe, e dirigido a profissionais da área de saúde (médicos, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, etc.), bem como a interessados.

Este curso tem caráter de formação teórica e prática: sob a perspectiva teórica, analisa o que a Ciência moderna reconhece até o momento a respeito dos efeitos desta técnica sobre processos básicos do funcionamento fisiológico do cérebro, utilizando como base, conceitos básicos de neurofisiologia (1), e recentes estudos publicados em diversos periódicos de referência na literatura médica internacional (2), reforçando o potencial papel da prática da meditação da plena atenção como medida de promoção de saúde e auxiliar em diversos tratamentos clínicos. Sob a perspectiva prática, oferece a experiência deste treinamento e reflexão de seus fundamentos cognitivos, implicações e benefícios no âmbito do equilíbrio corpo-mente. 

1. Breve histórico dos intercâmbios

Desde meados do séc. XX, pesquisas de neurocientistas têm aberto campo para a reflexão mais acurada sobre as interrelações corpo/cérebro-mente.

O neurocientista Fred Gage e sua equipe, do Instituto Salk (Califórnia), realizando em 1997 pesquisas com animais, faz várias descobertas importantes sobre como um ambiente enriquecido pode mudar seus cérebros, causando novas conexões entre neurônios, bem como a geração de novos neurônios (3), onde o fator do exercício voluntário teria papel significativo. Um ano depois, utilizando fatias de hipocampo de cérebros de doadores humanos falecidos por câncer, Gage e sua equipe comprovaram a realidade da neurogeneses nos cérebros humanos (4). Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, em Madison, em sua pesquisa sobre a ciência das emoções, iniciada em maio de 2001, investiga as potencialidades da mente na mudança do cérebro. Em 2004, a prestigiada revista científica Proceeding of the National Academy of Sciences (5) publica o primeiro relato sobre o aumento do sinal gama nos treinamentos da plena atenção e concentração (Mindfulness), uma ativação maior nas regiões cerebrais da ínsula direita e núcleo caudado, rede que outros estudos têm associado aos aspectos afetivo-emocionais cerebrais, bem como mais fortes conexões das regiões frontais para regiões de emoção do cérebro, “sugerindo o poder do treinamento mental de produzir um estado cerebral elevado associado à percepção, solução de problemas e consciência” (6). O neurocientista Francisco Varela, em suas pesquisas sobre cérebro-mente, abre importantes contribuições para o campo das Neurociências e Ciência Cognitiva (7). Nessa linha de investigação, cientistas como Michael Merzenich (Universidade de Wisconsin) e John Kaas (Universidade de Vanderbilt) desenvolvem, a partir da década de 80, linhas de pesquisa relacionadas à questão da plasticidade do cérebro adulto, que evidenciam que o desenho físico do cérebro e o dinamismo do córtex cerebral são moldados e transformados pela experiência e comportamento (8).

Nesta linha de investigações das interrelações entre corpo-cérebro-mente e padrões de comportamento, pesquisas sobre o papel da influência do treinamento da plena atenção e concentração passaram a ser desenvolvidas na área da Psiquiatria e Psicologia. Jeffrey Schwartz, pesquisador e professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, investiga o potencial terapêutico da meditação da plena atenção nos seus pacientes com Transtorno-Obsessivo-Compulsivo (TOC), demonstrando em estudos que o esforço mental voluntário e consciente pode alterar certos circuitos cerebrais, no caso específico, diminuindo a atividade no córtex frontal orbital, o centro do circuito do TOC. Suas pesquisas se inserem no campo da Neuroplasticidade e Neuropsicologia (9).

Na década de 90, cientistas da Universidade da Califórnia apontavam que a Terapia Cognitivo-Comportamental, baseada na mente, poderia intervir no âmbito de certos padrões de atividade elétrica e química dos circuitos cerebrais, relacionados com transtornos psiquiátricos como a depressão. As evidências científicas derivavam de uma ampla pesquisa chamada Treatment of Depression Colaborative Research Project (Projeto de Pesquisa Colaborativa de Tratamento de Depressão), estudo que durou dois anos, financiado e elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) (10).

Nessa mesma linha, a terapia cognitiva da Plena Atenção (Mindfulness-Based Cognitive Therapy, MBCT) vem sendo desenvolvida por cientistas contemporâneos, como Mark Williams (PhD, Professor de Psicologia Clínica e Wellcome Trust Principal Research Fellow da Universidade de Oxford, United Kingdom), John Teasdale (PhD, Department of Psychiatry e no Cognition and Brain Sciences Unit, Cambridge, UK), Zindel Segal (PhD, Morgan Firestone Chair em Psicoterapia na Universidade de Toronto e Diretor do Cognitive Behaviour Therapy Unit no Centre for Addiction and Mental Health), Jon Kabat-Zinn (PhD, Professor Emérito de Medicina no University of Massachusetts Medical School) (11).

Importante salientar que propomos a experienciação desta prática não como alternativa às terapias médicas, psiquiátricas e psicológicas de saúde, o que seria uma simplificação descabida sobre a complexidade envolvida nas questões dos distúrbios físico-mentais da condição humana. A ressalva é necessária, dada a quantidade de proposições de “cura mágica” que assistimos surgir nos tempos atuais. O intercâmbio entre a Meditação da Plena Atenção (Mindfulness), as Neurociências e a Psicologia, ainda que considerando os estudos e aplicações acima referidas, ainda é recente, e requer maiores pesquisas e avaliações científicas tanto no âmbito de seus fundamentos conceituais como de seus resultados práticos. Esta prática deve ser vista antes como recurso complementar às terapias médicas, psiquiátricas e psicológicas de saúde, monitorada e acompanhada de avaliações profissionais adequadas.

Convém esclarecer que sua aplicação, bem como outras práticas de apoio, já se encontra atualmente referendada e incentivada pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002-2005), e como parte do PNPICS, Portaria 971 do Ministério de Saúde 05/2006 (SUS-Política de Práticas Integrativas e Complementares), bem como parte das práticas tradicionais, complementares e integrativas em certas capitais brasileiras, como nas Coordenadorias Regionais de Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo. Poderíamos também citar o Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos, Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Hospital Albert Einstein, ou como tema de pesquisa no Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo, e na Universidade de Brasília.

2. A Meditação da Plena Atenção (Mindfulness): Fundamentos

Mindfulness, a meditação da plena atenção e do insight, cuja origem se encontra na tradição budista, consiste no treinamento da faculdade mental da atenção, desenvolvendo-a pela prática da observação direta das experiências internas do corpo e da mente de maneira completamente consciente e sem julgamentos. Este treinamento, que envolve igualmente o desenvolvimento da faculdade mental da concentração, permite que a pessoa se posicione à certa distância dos enredos das formações mentais, observando momento-a-momento o corpo (em seus vários ângulos – como a respiração, batimentos cardíacos, sensações, etc.), as emoções e os pensamentos espontâneos do cérebro/mente.

3. Significados e benefícios no equilíbrio corpo e mente

Esta habilidade prática, conforme resultados evidenciados nas referências científicas citadas, consiste em um treinamento para o desenvolvimento de uma percepção da realidade, progressivamente equânime ante às experiências das sensações e emoções associadas ao processamento consciente e inconsciente das informações percebidas pelas áreas sensitivas primárias, em áreas cerebrais mais complexas relacionadas à memória, emoções e padrões de comportamento, principalmente em situações em que este processamento leva o indivíduo a estados de desequilíbrio físico e psicológico.

Uma recente pesquisa realizada pela Harvard Medical School, EUA, em conjunto com um instituto de neuroimagem da Alemanha e a Universidade de Massachussets (12), e publicada na “Psychiatry Research: Neuroimaging” (13), após comparações entre as ressonâncias magnéticas dos que foram treinados a praticarem esta meditação da plena atenção por oito semanas e um grupo-controle que não fez as aulas, estas ressonâncias mostraram aumento de massa cinzenta no hipocampo esquerdo, no córtex cingulado posterior, na junção temporo-parietal e em duas áreas do cerebelo dos meditantes. Segundo Britta Hölze, pesquisadora da Harvard Medical School e uma das autoras do estudo, isso pode representar melhoras nas áreas da aprendizagem, memória, emoções e estresse. Acresce-se também que por ser o hipocampo uma área onde há uma maior concentração de neurônios, o aumento da massa cinzenta no hipocampo é benéfico, segundo avaliação de Sonia Brucki, neurologista do departamento científico de neurologia cognitiva e do envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (14). Isto reforçaria a proposição sobre a estimulação da neurogenees e da neuroplasticidade do cérebro, e, portanto, da mudança da estrutura do cérebro, como efeito de certas práticas como a da Meditação da Plena Atenção. Novas pesquisas e avaliações deverão precisar com maiores dados os benefícios, desafios e limitações envolvidas nesta complexa temática da saúde humana.

Concluindo, e retomando a questão das proposições da Meditação da Plena Atenção (Mindfulness), seu treinamento possibilitaria que o indivíduo, em um primeiro momento, perceba o surgimento dos estados corporais e psicológicos a que as experiências do dia-a-dia condicionam o corpo e a mente, e, em um segundo momento, desenvolva gradualmente a capacidade de não se identificar com tais estados psicológicos, podendo escolher sua forma de responder frente a tais experiências de modo mais equilibrado, aumentando sua qualidade de vida e diminuindo assim o impacto de condições causadoras (e por sua vez resultantes) de estresse crônico e baixa qualidade de vida.

4. Notas

(1) Guyton, Hall Tratado de Fisiologia Médica 10º edição
(2) 2010 out., Função Cognitiva CBF, University of Pennsylvania J Alzheimers Dis;20(2):517-26; 2010 jun., Função cognitiva e índice de recaídas em etilismo crônico J Psychoactive Drugs;42(2):177-92; 2010, Modulação da Dor, Department of Psychology, Columbia University Pain;150(3):382-3, 2010 Sep.; 2010, Dor, potencial Evocado Antecipatório Human Pain Research Group, University of Manchester, Pain;150(3):428-38, 2010 Sep.; 2009, Contagem de Células CD4+ em SIDA Inst. Psiquiatria UCLA, EUA Brain Behav Immun;23(2):184; 2007; Capacidade funcional em ICC, Department of Medicine, University of Pennsylvania.).
(3) Gage, F. H.; Kempermann; Kuhn, H.G.: “More Hippocampal Neurons in Adult Mice Living in an Enriched Environment” Nature 386 (1997): 493-95.
(4) Gage, F.H, Erikson, P.S; Perfilieva E.; Bjork-Eriksson, T.; Alborn, A.M; Nordborg, C.;Peterson D.A.: “Neurogenesis in the Adult Human Hippocampus”, Nature Medicine 4 (novembro 1998); 1313-17.
(5) Davidson R..J.;Lutz, A.; Greischar, L.L.; Rawlings, N.B.; Ricard, M.: “Long-Term Meditators Self-Induce High-Amplitude Gamma Synchrony during Mental Practice”, Proceedings of the National Academy of Science 101 (16 novembro 2004): 16369-73.
(6) Begley, Sharon: Treine a mente, mude o cérebro, p.251; RJ, Objetiva, 2008.
(7) Francisco Varela et al: “The Brainweb: Phase Synchronization and Large-Scale Integration”, Nature Review Neuroscience i2 (2001): 229-239; em imunologia: Francisco Varela e Antonio Coutinho: “Second-Generation Immune Networks”, Immunology Today 12 (1991): 159-166; em biologia teórica: Francisco Varela, Principles of Biological Autonomy, NY: North Holland, 1979; em ciência cognitiva: Varela, Francisco; Thompson, Evan; Rosch, Eleanor: “A Mente Corpórea – Ciência Cognitiva e Experiência Humana”. Lisboa, Ed. Instituto Piaget, 2001.
(8) Merzenich, M.M.; Kaas, J.H.; Wall, J.T.; Sur, M.; Nelson, R.J. e Felleman, D.J. “Progression of Change Following Median Nerve Section in the Cortical Representation of the Hand in Areas 3b an 1 in Adult Owl and Squirrel Monkeys”, Neuroscience 10 (1983): 639-65.
(9) Schwartz, Jeffrey M.; Begley, Sharon: The Mind & The Brain –Neuroplasticity and the Power of Mental Force. NY, Harper Perennial, 2003; Begley, Sharon: Treine a mente, mude o cérebro, p.157; RJ, Objetiva, 2008.
(10) Elkin, I.;Shea, M.T.;Watkins, J.T.; Imber, S.D.; Sotsky, S.M.; Collins, J.F. Glass, D.R.; et all: “NIMH Treatment of Depression Collaborative Research Program: General Effectiveness of Treatments”, Archives of General Psychiatry 46 (1989): 971-83.
(11) Suas proposições e resultados podem ser examinadas em: Williams, Mark; Teasdale, John; Segal, Zindel; Kabat-Zinn, Jon: The Mindful Way through Depression. USA: The Guilford Press, 2007. Nesta obra, há outras referenciais de publicações realizadas em torno desta temática.
(12) Folha de São Paulo, “Saúde”, C12, 30/01/2011.
(13) Idem, C12.
(14) Idem, C12.








segunda-feira, 13 de junho de 2011


Os meninos e meninas
seus Caminhos de Sonhos, e Rebeldias

Louco motiva

Pro-sseguindo em: Travessia do Samsara

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Indigenous Spirituality
and 500 years of  modern ambition


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sexta-feira, 20 de maio de 2011

 
Curso prático de introdução à Meditação para Iniciantes

5 semanas - inicio : 6 junho




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terça-feira, 3 de maio de 2011

Educação, espiritualidade e humanidade

Contribuições budistas para a realidade brasileira
Dr. Arthur Shaker

Casa de Dharma - Instituto de Estudos Superiores do Dharma
(Inspirado no texto
O desenvolvimento do Buddhismo no Brasil por meio da Educação”,
publicado no 1º. Seminário da Faculdade Livre Budista do Templo Zu Lai
Caderno de Artigos, Cotia, SP, 04/10/2003, pags. 59-71)


Como podemos compreender os vínculos entre Educação, espiritualidade e humanidade, abrindo perspectivas sobre a contribuição dos ensinamentos budistas para a atual realidade brasileira?

Comecemos examinando qual o coração dos ensinamentos budistas para a humanidade. Buddha disse que Ele só ensina duas coisas: a existência do sofrimento e a erradicação do sofrimento (Samyutta-Nikâya, xxii, 86). O instrumento que aqui estamos escolhendo para arrefecer o sofrimento é a Educação. O que seria uma Educação orientada por uma perspectiva budista?

Desde já, convém salientar que perspectiva budista deve ser refletida a partir de um olhar que não se enclausure num rótulo “religioso”, mas à luz de um rigor profundamente científico, passível, portanto, de ser teoricamente sustentável e verificável nos dados de experienciação na realidade.

Para refletirmos sobre o que seria a contribuição budista para humanidade em geral, e mais especificamente para a realidade educacional brasileira, temos, antes de tudo, compreender as tendências formadoras do Brasil, em uma perspectiva de sua história e de sua realidade atual. Pois se a contribuição budista para uma Educação no Brasil significa buscar arrefecer seus sofrimentos, e, ao mesmo tempo, cultivar as qualidades positivas, então devemos nos perguntar: Quais são os sofrimentos do Brasil? Quais são suas potencialidades positivas? Cada lugar e tempo têm os sofrimentos que se enraizam em causas universais conjugadas com causas específicas. O Brasil tem seus condicionantes saudáveis e não-saudáveis próprios, precisamos enxergá-los. E o que seriam os condicionantes saudáveis e não-saudáveis próprios do Brasil? O tema é muito vasto, tentarei focalizar alguns ângulos mais importantes.

Para compreendermos alguns dos sofrimentos de que padece o Brasil, convém começarmos olhando para a formação histórico-espiritual do Brasil, pois nossa realidade atual é fruto das ações (karma) do passado e do presente. Das várias linhas que constituíram este país, destaco as três grandes correntes: o mundo europeu a partir do séc. XIV-XV; as correntes africanas que para aqui foram trazidas através principalmente da escravidão; e a presença milenar das tradições indígenas. A partir dos finais do séc.XIX/início do séc.XX, uma variedade de migrantes veio participar da formação brasileira, dando-lhe este caráter de país multiétnico. Mas vamos nos concentrar inicialmente nas três grandes correntes, procurando entender suas principais tendências.

É sabido que a chegada do mundo europeu nestas terras das Américas, assim como também na África e Ásia, a partir do séc.XV-XVI, teve como objetivo maior a expansão de uma forma de produção conhecida como mercantilismo, que após certo tempo de acumulação de riquezas provindas das colônias, permitiria a emergência do industrialismo, cujas formas mais complexas vemos em nossos dias de globalização, tecnologias e consumismo. A colonização do Brasil faz parte desse panorama. Este novo modo de vida da Europa pós-medieval foi sendo construído em cima da progressiva destruição do seu antigo modo de vida feudal, antes voltado para a vida dos feudos, com suas aristocracias e servos, sua produção principalmente agrícola e artesanal, sendo todo seu edifício social orientado pelos valores da tradição cristã, com suas igrejas e monastérios. Neste processo de mudança, era preciso novas terras e novas riquezas.

Se olharmos do ponto de vista do Dhamma, podemos aí ver atuando o que Buddha chama de tanhã, a avidez, a ganância, o desejo da mente possessiva. Para que esta sede pudesse se expandir, era preciso conquistar as terras do além-mar europeu. Abre-se com isto uma nova e difícil fase da humanidade, em que uma visão materialista do mundo irá buscar se impor sobre todos os povos. Não é que esta sede material fosse algo novo, está dentro da mente desde os primórdios, é um dos aspectos da natureza do samsara, mas ainda não tinha alcançado este grau de imposição a ponto de se tornar a grande lei a partir de então, rompendo fronteiras e abalando as culturas humanas tradicionais das Américas, África e Ásia. Olhando a história da colonização, podemos ver o quanto de sofrimento foi criado, gerando uma herança kármica nociva, cujos efeitos sentimos até hoje.

Nesse processo de colonização, voltando nosso foco para o Brasil em específico, o que vemos? Ocupação e extermínio de muitos povos indígenas (calcula-se que havia de 5 a 10 milhões de nativos, hoje são, segundo o IBGE, por volta de 750 mil), importação de africanos que vieram escravizados para o duro trabalho nas grandes plantações de açúcar, expedições sedentas de ouro e pedras preciosas, toda riqueza dirigida às metrópoles, muitas guerras e lutas por independência, república ... até chegarmos aos nossos dias, em um quadro mundial de globalização e grandes desafios. Criou-se essa tendência de ver o Brasil como uma terra de lucros fáceis, a qualquer custo, alheia ao sofrimento dos outros. E o Cristianismo, que papel desempenhou?

Se de um lado muito da cultura saudável européia foi para cá trazida graças ao patrimônio cultural e espiritual que o Cristianismo europeu desenvolvera desde há muitos séculos, e isto constitui um bom karma, por outro lado este patrimônio foi difundido às custas de forte imposição sobre os escravos africanos e os povos indígenas que aqui viviam. Em meu livro Buddhismo e Christianismo (Shaker, 1999, p.76) procuro chamar atenção para um aspecto que alguns poucos estudiosos apontaram, o de que a expansão do Ocidente pós-medieval teve uma forte tendência de dessacralização do mundo, no sentido de obscurecer as leis espirituais, tornando o desejo material uma força devastadora. O Cristianismo, que tem um de seus maiores princípios no “amar ao próximo como a si mesmo”, na vida da modéstia, generosidade e compaixão, parece ter se esquecido disso durante toda a colonização, pois caso contrário, como entender a brutalidade dos colonizadores que se diziam cristãos? O Dharma do Christo foi envolvido em uma prática ambígua, com muitas contradições. A prática dos colonizadores, que se diziam cristãos, de cristã tinha pouco, e trouxe fortes sofrimentos inclusive aos próprios cristãos, até hoje.

Como instrutor de meditação da Casa de Dharma, tenho procurado lidar com essa questão, pois muitos dos que vêm até nós chegam com confusões e sofrimentos em suas mentes como conseqüência dessa herança psíquica mal elaborada. E assim, decepcionados com essa experiência anterior, buscam no Budismo uma nova alternativa espiritual, o que em si tem um aspecto saudável, mas que se não for bem entendido pode mantê-los estagnados num ponto em que não serão nem budistas nem cristãos, pois cada uma dessas tradições tem sua forma própria de encaminhamento para a realização espiritual.

Penso que se o Budismo quer lidar com essa situação com profundidade, e não simplesmente buscar se aproveitar dessa confusão mental a favor de uma expansão de seus participantes, precisamos compreender melhor essa tendência espiritual conflitante que envolveu o Cristianismo durante esses cinco séculos da formação do Brasil, e trabalhar com isso de forma correta, pelo bem da Verdade e da libertação humana, abrindo os horizontes para uma mente sem avidez nem ignorância. Lembro que o Budismo nunca precisou da força para se expandir, e nunca o fez pelo proselitismo tirando praticantes de outras tradições, mas sempre pelo caminho ensinado pelo Buddha, do “venha e veja”.

Podemos usar a sabedoria do Dharma não para julgar ou criticar, mas para ajudar os cristãos a verem que os ensinamentos de Buddha e Christo têm afinidades profundas, em suas verdades sobre o amor, a compaixão e a natureza passageira e ilusória deste mundo samsárico. Tanto budistas como cristãos, e podemos estender isto a todas as tradições espirituais legítimas, devemos colocar em prática esses ensinamentos, e agirmos em nosso corpo, fala, e mente afinados com a perspectiva de nos tornarmos verdadeiramente humanos, educando a nossa mente a ver no dia-a-dia as tendências nocivas da cobiça, ódio e ignorância nos tempos atuais: a sede pela riqueza conseguida sobre o sofrimento dos outros, a ganância pelo poder que pisa sobre os mais fracos, a conivência com a corrupção, a indiferença pela dificuldade dos outros, a violência física e mental, as drogas, as falhas na educação escolar que em nenhum momento mostra aos estudantes o caráter impermanente e insatisfatório dessa vida samsárica, como se o futuro e a vida fôssem apenas um grande supermercado de coisas prazerosas sem fim, esta fantasia criada pelo consumismo de que a felicidade e o progresso são sinônimos de riqueza material, e que o conhecimento se restringe apenas a dominar técnicas para produzir mais coisas.

Tecnologias e produtos são úteis para diminuir nosso desconforto diante da dureza da vida, mas desde que usadas para apoiar nossa prática espiritual, e não para tentar nos iludir sobre a verdade da impermanência e insatisfatoriedade que Buddha ensinou sobre o mundo condicionado samsárico. Não significa que devamos cair no outro extremo, o de querer que o Brasil deva ser sempre um país materialmente pobre, e que a pobreza material seria sinônimo de espiritualidade. É claro que riqueza material pode seduzir e desviar a mente do caminho da realização espiritual, mas a mortificação não conduz à libertação, como bem demonstrou o Buddha com sua experiência própria. É um grande desafio e esforço dos países do hemisfério sul o de trabalharem pelo bem estar de seus cidadãos, tarefa árdua nestes tempos de grandes poderes e ganâncias mundiais. Lembremos que o Brasil é um país de muita riqueza, porém a participação mais inclusiva das riquezas para o bem de todos é sempre um dos grandes desafios. A eqüanimidade ensinada pelo Buddha deve fazer parte da direção educacional para o arrefecimento do sofrimento deste país.

Compreendendo os karmas, podemos transformá-los. A segunda grande corrente a ser compreendida são as tradições africanas que vieram ao Brasil no período da escravidão. Os documentos e arquivos sobre o tráfico dos escravos foram queimados, e sendo proibida nos recenseamentos oficiais a discriminação segundo a cor da pele, é difícil se ter dados exatos sobre o número da população de ascendência africana no Brasil, mas calcula-se a grosso modo que 35% a 40% da população brasileira são de origem africana (Elbein dos Santos, 1977, p.27. A autora se baseou em pesquisas de 1967, do Gabinete de Estudos Regionais e de Geomorfologia da Universidade da Bahia).

Duas grandes linhas africanas constituíram a presença africana no Brasil. No período da conquista e desbravamento do Brasil, temos os Bantu, do Congo e Angola, espalhados em pequenos grupos nas plantações e nos centros litorâneos do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, em uma época de comunicações difíceis. A partir da segunda metade do séc. XVIII, quando o comércio escravista se deslocou parcialmente para o golfo do Benin, temos a presença sudanesa, com os Jeje do Daomé, os Hausa e os Nagô (Yorubá). Concentraram-se nas zonas urbanas em pleno apogeu, como Salvador e Recife. Tinham contato permanente com suas terras de origem, pelo comércio intenso entre a Bahia e a Costa (Elbein dos Santos, 1977, p.31).

Cada uma dessas correntes africanas trouxe sua cultura e sua religião. Também é sabido que suas tradições foram fortemente reprimidas, obrigando-as a se esconderem sob o panteão dos santos católicos para que pudessem sobreviver. Existe até os dias de hoje ainda preconceitos raciais, embora muitas leis têm sido promulgadas para combater as discriminações raciais. Também ainda há um grande desconhecimento das formas tradicionais religiosas das culturas africanas no Brasil. Por outro lado, a resistência dessas tradições se estende até hoje em muitos campos, não só o da sua espiritualidade, mas também em outras áreas culturais em que marcaram a formação brasileira, por exemplo, com suas artes como a música, a dança, a culinária. Penso que é um grande desafio aos budistas examinar como poderiam se relacionar de forma correta com essas tradições.

A primeira exigência seria conhecê-las, a partir da sua própria perspectiva. Deveríamos também levar em conta a experiência da presença do Budismo atualmente em países africanos, procurando-se saber como se está lidando com essa relação, de modo a evitar o equívoco anterior de tentar se impor ou ignorar essas raízes, compreendendo e buscando ao mesmo tempo um espaço próprio e um espaço para o diálogo espiritual. Observemos que nos centros budistas ainda há poucos participantes de origem negra, o que talvez decorra do fato de que o Budismo ainda seja uma via espiritual acessível apenas para as camadas intelectualizadas da população brasileira, enquanto a maioria afrodescendente ainda se vê confinada nos limites das camadas sociais mais baixas. Como lidar com isso é um desafio.

A terceira grande corrente são as tradições indígenas. Embora elas sejam numericamente menores (as populações indígenas somam hoje cerca de 600.000 habitantes), e sua influência sobre as culturas não-indígenas da realidade brasileira seja restrita, não significa que seriam por isso menos importantes. Em primeiro lugar, penso que todos temos o compromisso de apoiar o resgate da dignidade dessas culturas nativas que foram, e continuam sendo duramente atingidas pela presença de uma sociedade que desde os tempos da colonização vem trazendo grandes sofrimentos para esses povos. Há muitos anos venho como antropólogo trabalhando junto a essas culturas. Percebi, através da visão correta que o Dharma tem aberto em minha mente, que existe um Dharma das tradições indígenas. Escrevi um ensaio (acessível em meu blog), sobre A Espiritualidade indígena e os 500 anos e tantos anos da ambição moderna, na forma de uma carta dirigida aos amigos indígenas, em que procuro mostrar que a violência sobre eles faz parte de uma tendência materialista que afeta há um certo tempo todos os povos.

Procuro também abrir com eles um diálogo sobre sua espiritualidade ameaçada por esses nossos tempos, e a importância de encontrarmos formas amistosas de defender uma visão espiritual do mundo. Trabalhando com eles, venho entendendo que a sabedoria do Dharma é muito mais ampla e profunda do que muitas vezes nós mesmos, os budistas, percebemos. Lembro as palavras do Ven. Bhikkhu Bodhi, nos mostrando que o Buddha de fato não inventa um novo Dharma, mas que seu papel é o de “redescobrir o Dharma, o princípio último da verdade, e de oferecer uma herança espiritual de modo a preservar o ensinamento para as futuras gerações” (Bhikkhu Bodhi, 2003, p.7).

Penso que os budistas deveriam buscar se relacionar também com as tradições indígenas. Precisamos fazer intercâmbios com elas, sem tentar impor a visão espiritual budista sobre essas culturas, e, para isso, temos de começar pela compreensão aprofundada sobre como a espiritualidade está estruturada nas tradições indígenas, ou seja, como o Dharma se apresenta na religiosidade indígena. E, a partir daí, encontrarmos as pontes dhármicas corretas, em que sejam respeitadas as diferenças entre o caminho espiritual budista e os caminhos indígenas, ao mesmo tempo em que abrimos nossa mente para conhecer aonde estão as possíveis afinidades para além da forma dessas tradições. Lembro as palavras contidas na biografia do Ven. Mestre Hsing Yün sobre a tolerância para com as religiões arcaicas, em que afirma que “as crenças, como a aprendizagem, variam em profundidade e sofisticação. Se estiverem comprometidas com o bem, Hsing Yün acredita que devam todas ser valorizadas” (Chi-Ying, 2002, p.339).

Todo meu trabalho de pesquisa, que culminou na minha tese de doutorado, está focado nesse grande esforço: por um lado, trabalhando anos a fio junto aos velhos indígenas e seus tradutores, transcrevemos detalhadamente suas histórias dos tempos da criação do seu mundo, procurando entendê-las a partir da sua perspectiva, com seus próprios comentários e reflexões; por outro, trazendo para o diálogo e o conhecimento deles a sabedoria de outros povos milenares, indígenas, asiáticos e africanos, visando preservar na forma de um livro esse conhecimento, que sirva tanto para os “homens brancos” entenderem um pouco melhor essas culturas e com isso respeitá-las, como também para as novas gerações indígenas, pois os velhos percebem que pouco a pouco esse conhecimento antigo e rico vai se perdendo, em virtude de um certo desinteresse dos jovens indígenas, cada vez mais fascinados pela sedução do mundo moderno.

Tendo esse panorama histórico-social como pano de fundo da realidade brasileira, como a perspectiva budista poderia contribui para o campo da Educação, que não necessariamente tenha de passar por um estereótipo de uma “intromissão proselitista religiosa no domínio da Educação laica”?

A pergunta que precede essa reflexão seria: o que entendemos por Educação? Se olharmos a raiz latina da palavra educar, veremos que provém do prefixo e (“para fora”) e ducere (“conduzir”). Educar significa trazer para fora, para a luz, algo latente. Também tem o sentido de “erguer, levantar”. Algo análogo ao conceito grego de Paidéia, proveniente da raiz pais, paidós, “menino, filho”: educar seria “domesticar, domar, ensinar”, como um pai que toma a mente como seu filho, e o ensina a lapidá-la. E o quê nós humanos temos latente, que caberia à Educação expressar e lapidar?

A compreensão das Verdades sobre a condição humana (o Dhamma na língua páli, Dharma na língua sânscrita) realizadas pelo Buddha é aqui fundamental para investigarmos como delas decorrem orientações para uma prática da Educação. Para isso, destaco, por ora, das três jóias budistas, o Dhamma, termo de difícil tradução. Provém da raiz sânscrita dhri, que significa “carregar, suportar, sustentar, manter” (Guénon, 1979, p.70). Ou seja, é a Constituição (ou Natureza de algo), a Norma, Lei (jus), Doutrina, Justiça, Retidão, Qualidade, Coisa, Objeto da Mente, Fenômeno (...) O Dhamma, como a lei liberadora descoberta e proclamada pelo Buddha, está posta nas Quatro Nobres Verdades (Nyanatiloka, 1987, p.47). Quais são elas?

A Nobre Verdade sobre a insatisfatoriedade e sofrimento da existência condicionada, a Nobre Verdade sobre a causa do sofrimento, a Nobre Verdade sobre a cessação do sofrimento e a Nobre Verdade sobre o método de superação do sofrimento. Segundo o monge budista Buddhadasa Bhikkhu, o Dhamma é “o segredo da natureza que precisa ser entendido de modo a desenvolvermos a vida em seu mais elevado benefício possível” (Buddhadasa, 1988, p.3). O Dhamma da vida tem quatro sentidos: a natureza em si; a lei da natureza; o dever que deve ser cumprido de acordo com aquela lei da natureza e os frutos ou benefícios que decorrem do cumprimento daquele dever (Buddhadasa, 1988, p.4).

Os Buddhas nascem no estado humano, e nos ensinam que o nascimento nesse estado é raro e importantíssimo, porque é exatamente nesse estado humano que podemos compreender com total clareza as Quatro Nobres Verdades sobre os extremos igualmente ilusórios do sofrimento e do prazer. É essa compreensão que nos permite libertarmos do samsara (ciclos de renascimentos) e realizarmos o estado da mente totalmente livre, incondicionada, Nibbana (Nirvana, em sânscrito). Já os devas (seres celestiais) estão presos na embriaguez dos prazeres celestes conquistados por seus méritos anteriores, mas impermanentes, e os seres infernais estão presos a um grande sofrimento para cuja libertação devem renascer no estado humano. Esta centralidade do estado humano no samsara é exatamente o significado profundo do que seja a humanidade, nossa humanidade.

Todo meu trabalho na Antropologia é explicitar exatamente essa significação da condição humana. Em meu livro A travessia buddhista da vida e da morte, proponho alguns fundamentos para uma Introdução a uma Antropologia Espiritual. Através de uma ampla pesquisa sobre as doutrinas de muitos povos da humanidade, procuro mostrar que em todas está presente essa visão da centralidade do estado humano no mundo. Esquecer ou ignorar isto, e ainda há muita ignorância sobre isto em nossos cursos universitários, é lançar a humanidade e toda a Natureza no caos, transformando o homem em uma espécie de animal consumidor de uma fome que não tem fim. E como o homem tem forte poder sobre a Natureza, o que assistimos nessa expansão desenfreada dos desejos dos sentidos é uma crise ecológica que ameaça o planeta e todos os seres.

Em virtude do lugar importante que nosso estado humano tem nesse mundo, temos grande responsabilidade e deveres para com a preservação não só da nossa espécie como também de todos os outros seres. Compreender e assumir esse Dhamma significa educar-se continuamente, e educar é trazer para fora e lapidar o que temos latente. Mas estas potencialidades têm duas faces opostas:

De um lado, nossas tendências dhármicas virtuosas como a capacidade de conhecer as verdades, desde as relativas até a Verdade Última nirvânica, incluindo nossas qualidades inatas para o desenvolvimento dos quatro estados sublimes (brahma-vihara) incentivados pelo Buddha: a amizade amorosa (metta), a compaixão (karuna), a alegria simpatética (altruísta) para com a realização dos outros (mudita) e a eqüanimidade (upekkha).

De outro lado, temos nossas tendências adhármicas, as heranças kármicas negativas, as impurezas da ganância, do ódio e da delusão, todas elas frutos da nossa ignorância sobre o que seja o samsara. Esse é o duplo sentido da palavra maya: arte e ilusão. Como seres humanos, temos a capacidade de construir com arte nosso caminho da sabedoria (pañña) que nos conduz à libertação, ou nos enroscarmos nas teias da ilusão samsárica. Desenvolver uma perspectiva de Educação apoiada em uma construção budista significa conhecer, por um lado onde estão os sofrimentos tanto sociais quanto aqueles que estão dentro de nossas mentes, procurando trabalhar para nos livrarmos deles através de práticas curativas, e, por outro, cultivarmos nossas qualidades virtuosas e saudáveis.

Um dos instrumentos importantes desse processo curativo-preventivo-educativo é a prática de meditação, para o desenvolvimento da concentração, plena atenção e sabedoria, que permitem monitorar e trabalhar sobre nossas tendências não-saudáveis. Uma série de pesquisas científicas atuais na área médica e psicológica, interligadas às chamadas Neurociências, tem evidenciado as transformações e benefícios da meditação para a saúde mental e corporal.

A Educação, nessa perspectiva, aponta para um significado mais profundo da existência, no qual os seres humanos têm a valiosa oportunidade de transcender seu sofrimento e aprisionamento, indo para uma realização da Plenitude. Se perdermos essa dimensão maior, nos tornamos prisioneiros de um domínio puramente contingente e transitório da realidade, e com isso a cobiça e suas conseqüências dolorosas, como o ódio, o egoísmo, as disputas, a ansiedade, a depressão, a destruição da solidariedade e da ecologia dominam a mente humana. Quando perdemos essa perspectiva oceânica da realidade, e, portanto, da própria natureza mais profunda de nossa mente, e nos reduzimos a uma visão de peixinhos presos num aquário fechado, a vida se reduz a uma guerra pela sobrevivência, contra tudo e contra todos.

E examinando de modo mais cuidadoso, veremos que lamentavelmente a história de construção das ciências modernas se fez a partir de uma redução dessa amplidão do Real, criando uma exagerada separação entre o que se chamou de “ciência” e “religião”. É como se fosse atribuído ao pensamento “científico” o lugar da verdade estatisticamente comprovada, ficando para a “religião” o domínio de um hipotético transcendente, não passível de ser referendado por fatos, estatísticas e provas materiais. Como se a ciência cuidasse das “verdades objetivas” e quantitativas da Terra, e a religião ficasse com as crenças “subjetivas” de um “Céu hipotético”. Entretanto, pesquisando as culturas humanas, podemos observar um outro ponto de vista muito diferente.

Independente das teorias limitantes que a mente humana possa criar sobre a vida, encontramos o testemunho daqueles que alcançaram a realização espiritual da plenitude a indicação de que nossa realidade humana faz parte de um mundo condicionado, aquilo que no Budismo se chama de sankhata, que engloba todos os fenômenos da existência, ou seja, o samsara. Mas o mundo samsárico não tem fundamento em si mesmo, ou seja, não existe de modo autônomo, auto-suficiente. O mundo condicionado só ganha significado quando visto à luz do Incondicionado, o Nirvana, o suprafenomênico, asankhata.

Trata-se, portanto, de uma visão da Realidade como uma Totalidade, e isto é a base do que deveria ser um conhecimento científico verdadeiro. Mas, independentemente do fato de aceitarmos ou não sobre a verdade do transcendente, o fato é que mesmo se circunscrevermos nosso campo de entendimento de nossa realidade a esta única vida, esta poderá ser vivida com maior qualidade de relaxamento, afetuosidade e serenidade quando aprendemos a treinar a nossa mente no cultivo de nossas qualidades virtuosas e saudáveis e superação de nossas tendências não-saudáveis, monitorando nossos estados corporais e mentais através da prática da Meditação da Plena Atenção (mindfulness), da ética e da sabedoria.

É nessa perspectiva que a Educação profunda atuaria, pois é a ignorância sobre a natureza da realidade condicionada, na qual nós humanos estamos presos, que constitui a raiz de todos os sofrimentos. Educar-se é trabalhar metodicamente, unificando a educação formal e não-formal, sobre essa ignorância arraigada na mente humana, libertando-a em suas tendências saudáveis, para seu sonho de plenitude. A liberdade das águias.

Bibliografia

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USARSKI, Frank (Org.). O Budismo no Brasil. São Paulo, Editora Lorosae, 2002.











sábado, 9 de abril de 2011

Os Meninos e Meninas,
seus  Caminhos de Sonhos , e  Rebeldias

Pambhu Ghanda, e sua mochila, pelos interiores



Veja em  Travessia do Samsara

domingo, 13 de março de 2011

a Espiritualidade indígena
e os 500 e tantos anos da ambição moderna

Carta aos amigos indígenas

Arthur Shaker


Amigos. Os povos indígenas têm enfrentado muitos sofrimentos desde os últimos quinhentos e tantos anos da ambição moderna. Forças escuras vieram se movimentando pelo mundo já faz um bom tempo, trazendo muita dificuldade para os povos tradicionais de toda parte do mundo. Talvez ainda haja um tempo difícil. O que são essas forças escuras e como lidar com elas?

Foi a ambição que chegou aqui nas Américas, e na África e na Ásia há quinhentos e tantos anos atrás. A ambição é uma doença que queima dentro da mente dos homens desde os tempos mais antigos. De onde vem a ambição? O ser humano tem dentro dele o fogo,como que uma energia espiritual, que nos liga  ao Invisível. Esta energia pode conduzir nosso caminho espiritual ou ser o fogo da cobiça. Mas quando não entendemos corretamente o que é esse fogo e como dominá-lo, esse fogo vira ambição que engana e destrói. É isso que acontece com o mundo moderno.

Esse fogo é sabedoria e poder, luz e calor. Os Mbyá-Guarani ensinam que Ñamandu Ru Ete, quando criava o mundo, disse a Karai Ru Ete, o dono do fogo, para colocar pelo alto da cabeça dos humanos o fogo sagrado, tataendy, para trazer a força. Mas para esse fogo não criar um calor muito grande e perigoso, Ñamandu disse a Tupã Ru Ete, o senhor das águas e do trovão, para colocar no coração dos humanos a temperança, a moderação, yvára ñemboro’y.

Dominando esse fogo, os xamãs conseguem viajar e sonhar com outros mundos, mais profundos. Mas, conhecer e controlar esse fogo é difícil, precisa de muito esforço e orientação correta. Um povo tradicional tem os poderes para isso. Quando falamos tradicional, Tradição, alguns pensadores modernos ficam agitados, não querem entender. Pensam que é coisa atrasada, ultrapassada, contra o progresso. Mas não é isso. Os povos tradicionais são os que têm como fundamento e direção as verdades profundas que os seus criadores espirituais trouxeram do magnífico mundo do Transcendente, ou daqueles que alcançaram a Iluminação, como o Buddha. Isto é uma Tradição espiritual.

 
Alguns pensadores modernos dizem que os povos indígenas são muito diferentes um do outro, por isso não é possível falar em “povos tradicionais”, pois um não tem nada em comum com o outro. E não tendo nada em comum, não seria possível reunir os povos indígenas. É verdade que há muitas diferenças entre os povos indígenas, e essas diferenças são importantes e devem ser respeitadas. Os Sioux da América do Norte são diferentes dos índios Maya da Guatemala, os Xavante do Brasil são diferentes dos Aymara do Peru, são muitos os povos indígenas, com línguas e tradições diferentes. Mas todos falam que a origem do seu povo, e dos animais e plantas, é um princípio espiritual profundo.


Estou usando palavras para falar desse mundo espiritual, palavras como espírito, espiritual, espiritualidade. Não são nomes das línguas indígenas, e por isso não traduzem corretamente o pensamento indígena, e por isso devem ser consideradas com cuidado. Mas servem para nosso início de diálogo.

É verdade que cada povo indígena tem seu jeito de viver e se comunicar com o mundo dos espíritos. Mas aí está também uma verdade que é a base de todos os povos indígenas: todos falam que seus criadores tinham um grande poder espiritual, que todos os seres sencientes têm consciência, todos falam que este mundo está ligado ao Invisível. Os povos indígenas são diferentes, mas todos vieram do Invisível. É como o arco-íris no céu: são muitas cores, mas todas vêm da Luz branca, que passando pelas águas das nuvens, se abre em muitas cores. Será que o Invisível não é o Grande Mistério da origem de todos os povos e animais e plantas e seres de um vasto reino cosmológico?

Tudo que é vivo tem dentro dele esse fogo do Invisível. É esse fogo que faz tudo nascer, crescer e ficar alegre e dançar contente. Muitas tradições espirituais têm presente seus seres de poderes como criadorres do seu mundo. E  que quando os seres de poder criaram o mundo, eles ensinaram para seu povo as leis de viver de um jeito que esse fogo não queimasse tudo. São as leis da Tradição, para defender os humanos, as árvores e animais e conversar com os os vários reinos espirituais. Nas tradições antigas da Índia (o Hinduismo e Budismo), essa Lei que sustenta e está presente em tudo, chamamos de Dharma (Dhamma). Na tradição hindu também está presente seus seres criadores. Na tradição ensinada pelo Buddha, entretanto, não há essa mesma concepção  de um deus criador, ou de uma alma ou espírito eterno. Não queremos ignorar que há semelhanças, mas também algumas diferenças entre as cosmologias das tradições espirituais e métodos diferentes para alcançar a realização espiritual. Mas também vemos que há uma noção aproximativa importante, a verdade da Realidade Última e Plena. E para realizá=la, devemos compreender e viver segundo as leis espirituais próprias de cada tradição espiritual. O mundo moderno esqueceu-se dessas leis, o fogo virou ambição e tomou conta do pensamento geral, como uma jibóia de boca bem grande comendo tudo sem parar, nunca está satisfeita, até que um dia explode.

Quando falamos em mundo moderno, não estamos falando de países, raça, cor de pele, pois lutamos contra qualquer tipo de racismo e preconceito. Quando falamos em mundo moderno, estamos nos referindo a um tipo de mentalidade, a mentalidade moderna que começou cinco séculos atrás no Ocidente, e que foi se espalhando pelo mundo, e que é dominada por uma visão e uma atitude materialista, e desespiritualizada perante a vida e os povos tradicionais.

Esta ambição da civilização moderna é uma semente que já estava plantada dentro do mundo desde o seu começo. Os homens de sabedoria da Índia dizem que o mundo nasce já com todas as sementes que vão brotar. No começo o mundo é mais brilhante, brotam as sementes de mais poder e luz espiritual, o mundo estava mais perto da magnífica origem. Por isso, dizem muitos povos indígenas, nos tempos muito antigos a palavra era criadora, era só dizer e as coisas apareciam. Os Xavante contam que no tempo dos criadores todos tinham poder, mas havia alguns seres especiais, que tinham muito mais poder, eram os criadores. Podiam criar só com a vontade, pensavam e se criava os alimentos e os animais, já com os nomes.




Muitas leis começaram a ser quebradas, isso era inevitável pela própria tendência do mundo, e com isso muito desse poder espiritual foi se perdendo. O ciclo cósmico vai se des-enrolando e vão brotando mundos com menos poder e luz, cada vez se afastando mais desse poder espiritual, se materializando em velocidade crescente. Até parar, aí é o fim de um mundo. Muitas tradições já apareceram e desapareceram.

Não é que uma tradição se acabe, ela apenas volta para dentro do Grande Mistério Invisível. Não ouvi nenhum povo tradicional dizer que o mundo vai ficando mais luminoso. Não se encontra entre os povos tradicionais essa idéia do progresso e da evolução. Será que essa teoria é plenamente provada, ou é apenas uma idéia inventada pelo pensamento ocidental moderno? Para os povos tradicionais, o que encontramos é uma visão oposta. A tradição hindu, por exemplo, diz que o Cosmos caminha para baixo. O materialismo vem crescendo muito, a ambição vai tomando conta de tudo, destruindo a Natureza e os povos indígenas. Essa doença hoje já se espalhou pelo mundo inteiro.

Não foi a expansão dessa ambição que trouxe a invasão das Américas, a África e a Ásia há cinco séculos atrás? Isso não faz parte dessa tendência cósmica para baixo? Nada é por acaso. Diz a tradição hindu que estamos já há muito tempo na quarta e última etapa desse ciclo, fase chamada de Kali Yuga, a Idade Escura. Esta verdade também aparece em muitas tradições indígenas. A espiritualidade do mundo e dos homens vai se perdendo rapidamente, o tempo passa correndo cada vez mais.

Cada vez mais escuro e pesado, o mundo vai sendo puxado para baixo, como a correnteza do rio arrastando tudo. Para lutar contra essa correnteza, os povos tradicionais têm seus rituais e conhecimentos para defenderem o equilíbrio da vida na Terra e manter a comunicação com o mundo espiritual. No Budismo, ritos não são importantes, o incentivo está no caminho de purificação da mente, prtaicando o Nobre Caminho da  virtude, da concentração e da sabedoria. Isso inclui o espeito e proteção pela terra e por todos os seres vivos. Mas o que é preocupante é que talvez chegue o tempo em que não vai dar mais para proteger o mundo.

Olhando para a história do Ocidente, vemos que esses povos ocidentais também tinham suas leis espirituais no Cristianismo. Mas essas leis foram esquecidas, e os valores cristãos abandonados. Diz a história que quando um outro povo guerreiro fechou a passagem do comércio do Ocidente por terra, o comércio ficou difícil. Então os grandes comerciantes dos países ocidentais resolveram se aliar com os governantes e deram muito dinheiro para os navios procurarem caminhos pelo mar para o comércio. Começaram as grandes navegações, procurando terras e riquezas. A ambição começou a crescer.

O Cristianismo ensinava que se deveria viver uma vida de respeito e amizade com os outros, e que o pensamento deveria estar sempre no Deus. Que não se deveria ter muita ambição com as coisas materiais, mas se esforçar para seguir o exemplo do Cristo e alcançar o reino dos céus, onde tudo é bom. Mas se foi esquecendo disso. A tradição religiosa dos colonizadores começou a enfraquecer. Riqueza e lucro virou o grande desejo deles. Queriam ter bastante lucro, tomar as terras e as riquezas dos outros, só pensavam nisso. Foi virando uma febre dentro da cabeça deles.

Aquelas sementes da ambição material que estavam guardadas dentro do mundo desde os tempos antigos começaram a querer crescer como fogo na floresta. E essa mentalidade abriu as portas para essas sementes terríveis crescerem com uma força violenta. Os antigos dizem que isso iria acontecer, que iria ter de acontecer, porque as sementes escuras também estão dentro deste mundo, iam ter de brotar e crescer e se espalhar até se esgotarem. As histórias dos povos antigos contam que já aconteceram coisas parecidas em outros tempos do passado. Mas agora o perigo é muito maior e está ameaçando o equilíbrio espiritual de toda a Terra. Por isso os antigos dizem que a essa mentalidade materialista moderna é a loucura e vai destruir este mundo.

O líder espiritual indígena Davi Kopenawa, do povo Yanomami, disse certa vez que rotukala, o mundo, está cansado. Que vai chegar a hora em que o nosso mundo vai explodir. Falou que um dia se iria lembrar dessas palavras dele, porque a poluição está aumentando, está chegando na floresta, está matando as árvores, está caindo nos rios e matando os peixes. A poluição cai na cidade e vai longe porque o vento leva. Falou que os índios que estão cuidando deste planeta estão ficando doentes, e quando rotukala cair encima da gente, não vai ter para onde correr e se esconder. Essa ambição moderna é como uma cobra querendo engolindo tudo. Quando todos os xamãs morrerem, dizem muitos líderes indígenas, o mundo vai virar, vai quebrar, e ninguém vai escapar. O céu vai explodir. Vai cair e achatar a Terra. Será que a humanidade quer isso para si?

O mundo moderno gosta muito de mostrar com orgulho seus produtos industriais, fala-se muito em progresso, desenvolvimento, mas será que quem trabalha dentro de uma fábrica acha esse tipo de trabalho uma maravilha? Os povos indígenas, alguma vez aceitaram esse jeito de trabalhar?

Junto com isso, surgiu um tipo de pensamento, onde os homens, a sociedade e a Natureza não têm mais significado espiritual, é como se fosse apenas matéria, sem consciência ou mente. Muitos povos tradicionais falam que nosso mundo visível é só uma aparência, uma sombra do outro mundo magnífico e luminoso, o Invisível. Nosso mundo é como um espelho que só reflete um pouco do brilhante mundo transcendente. São muitos os mundos povoados de seres divinos, devas enfeitados, esses mundos são como camadas de luz até o Grande Mistério. Nenhum povo tradicional diz que só tem esse mundo material visível. Nosso mundo é só a superfície de um Oceano Luminoso Infinito.

Muitos pensadores da sociedade moderna dizem que esse conhecimento dos povos indígenas não é ciência, é só uma “crença”. Estuda-se muito os povos indígenas de todas as partes do mundo, mas será que se entendeu corretamente? Porque muitos pensadores chamam de “crença” a sabedoria dos povos indígenas? Será que não se está usando essa palavra “crença” para diminuir o valor do conhecimento dos povos tradicionais? Como o pensamento moderno não tem mais nenhuma ligação com o Invisível, quer-se com isso reduzir a força da sabedoria indígena, rotulando com o nome pejorativo de “crenças religiosas”. Às vezes até dizem que essas “crenças indígenas” devem ser respeitadas porque são o pensamento dos povos indígenas, mas no fundo muitos acham que o conhecimento indígena não tem a mesma força de verdade da ciência moderna. No fundo, ainda se pensa que o pensamento moderno fez um grande progresso no conhecimento, deixando para trás o conhecimento espiritual dos povos tradicionais e criando “o verdadeiro conhecimento científico”. Mas o que é um “verdadeiro conhecimento científico”?

Quando estudamos de perto, percebemos que é só no pensamento moderno que encontramos a idéia de que existe apenas esse mundo visível, e que o homem veio do macaco. O conhecimento materialista é colocado como “o científico e verdadeiro”, enquanto que o conhecimento dos povos antigos seria “crenças religiosas” e “não-científico”. Mas será isto mesmo? Ou não seriam dois tipos de ciências, onde no pensamento moderno o mundo visível não tem mais ligação com a Raiz Invisível, enquanto as ciências dos povos tradicionais, pelo contrário, estão sempre vendo este mundo ligado ao Invisível? Quer dizer que talvez o conflito não seja entre “ciência” e “crença religiosa”, mas entre dois tipos de ciência: uma que não tem espírito e outro em que tudo tem uma ligação com o Invisível, o sagrado. Não é que a ciência moderna esteja totalmente errada. Ela tem uma visão quantitativa dos fenômenos e baseado nisso ela criou a tecnologia moderna. Mas o problema é que esta visão quantitativa é só a superfície dos fenômenos, por isso ela não pode pretender ser a visão única e a mais correta dos fenômenos, pois ela não tem a qualidade e profundidade do conhecimento espiritual tradicional.

Por exemplo, o Sol. Para a ciência moderna, o Sol é apenas uma massa de gases explodindo e produzindo energia em forma de luz e calor. Mas para o povo indígena Desâna, o Sol é mais que isso. De acordo com seus relatos míticos, em seu livro Antes o Mundo não existia, o Sol é a criação de Yebá bëlo, a avó do universo, e seu bisneto, Yebá ngoaman. Com seu cetro-maracá, yéi waí ngoá, enfeitado com mahá weá iëhse (araras, muitas penas) e com abé põn mihi (sol, brincos), a ponta do bastão-maracá se transforma em um rosto humano que irradia luz. Era o Sol, sendo criado, aparecendo.

Estamos hoje vivendo uma grande crise ecológica. Muitos estão preocupados com a rápida destruição do meio ambiente. Isto é porque a civilização moderna cortou a ligação entre a Natureza e o Invisível. Tirou da Natureza sua qualidade espiritual e transformou a Natureza em um objeto de consumo, apenas uma matéria  que serve só como matéria-prima para a produção de mercadorias. Muitas medidas estão sendo pedidas para defender o meio ambiente, isto é importante, mas é preciso mostrar que a Natureza está sendo destruída por causa da grande ambição de consumo que tomou conta do mundo. Muitos querem salvar a Natureza, mas não querem diminuir seu apetite consumista. O que chamamos hoje de “crise ecológica” é também conseqüência da visão desespiritualizada do mundo moderno.

O mundo moderno virou as costas para seu objetivo e responsabilidade espiritual pelo planeta. Por isso a Terra está cansada. Por isso os xamãs dizem que quando eles acabarem, o mundo acabará, porque são eles que ainda lutam para defender o equilíbrio espiritual do mundo. Mas tudo neste mundo tem limite.

Não foi apenas da Natureza que foi tirada a espiritualidade. A mentalidade moderna também inventou uma sociedade regrada apenas pela visão materialista. A mentalidade moderna inventou uma sociedade que não é mais governada por verdades espirituais, mas por leis onde quem manda é o poder econômico. Neste modelo de sociedade ainda se trata os povos indígenas com discriminação e preconceito, forçando muitas vezes os povos indígenas a aceitarem leis que não são as leis que seus criadores espirituais ensinaram. Quando um povo indígena reclama o direito de seguir suas próprias leis, e afirma que é um povo com identidade própria, aí se vê que liberdade, igualdade e fraternidade nem sempre chega até ao direito indígena.

Será que a mentalidade moderna também não obscureceu a visão espiritual do homem? Como se o homem fosse apenas corpo e cérebro, uma barriga com muita fome e uma cabeça em que só funciona o pensamento e as sensações. Isso é o que vemos, a mentalidade do racionalismo. O racionalismo é uma forma de ver o mundo apenas como "matéria", sem a mente. O pensamento é uma qualidade humana importante, mas a razão sozinha é suficiente? A razão só trabalha corretamente quando é orientada pela sabedoria, que mora talvez não apenas no cérebro, mas no coração interior profundo.

Sem o entendimento de nossa natureza espiritual mais profunda, o fogo interior se transforma em loucura que destrói o mundo. É isso que estamos vendo. A violência sobre os povos indígenas desde há muito tempo não é apenas uma violência física e mental. É a violência contra as verdades espirituais que estão na raiz da humanidade.

Amigos indígenas:

Possam vocês continuarem com a coragem e sabedoria para proteger suas tradições, e superar as dificuldades destes tempos.

Possam todos os seres deste mundo despertar para as verdades profundas, e se orientando por elas, protegerem a si mesmas e a todos os seres, e superarem os sofrimentos do corpo e da mente, sofrimentos criados pela cobiça, pelo ódio e pela ignorância.