segunda-feira, 31 de maio de 2010

o Lugar do Homem nas doutrinas tradicionais

Resumo

Este texto apresenta algumas proposições centrais das doutrinas tradicionais sobre o estatuto ontológico do homem no Cosmos e na sociedade. Evoca os paradigmas das tradições teístas, como o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduísmo, as tradições indígenas ameríndias e africanas, e tradições não-teístas, como o Taoísmo e o Buddhismo.

A partir destas ontologias cosmológicas, examina as questões teóricas e práticas, e as conseqüências das perdas dessa compreensão no contexto da modernidade. Traz para a reflexão o significado da importância da recolocação desses paradigmas das doutrinas espirituais da humanidade. Aponta para o compromisso das Ciências da Religião, da Metafísica e da Teologia, bem como do conjunto das ciências humanas, nesse repensar ao nível intelectivo e seus desdobramentos para a existência humana contemporânea.

Revista UNICLAR, ano IX, no. 1. SP: Faculdades Integradas Claretianas, nov. 2007, p. 37-48

o Lugar do Homem nas doutrinas tradicionais
Arthur Shaker

Que coisa é homem, que há sob nome? pergunta o poeta Carlos Drummond. Quem somos, o que nos constitui e como direcionamos nossa natureza humana para a realização espiritual são as questões fundamentais daquele que aspira o caminho da Sabedoria e Iluminação. Para isto, vejamos o arcabouço explicativo das doutrinas tradicionais.

O lugar que as doutrinas tradicionais colocam o homem dentro da existência fenomênica pode parecer a princípio algo bastante complexo e nem sempre unânime para um ponto de vista mais imediato e exterior. Nas tradições que explicitam uma Cosmogonia, parte-se do Princípio Supremo, o Absoluto, para a manifestação, que se dá segundo uma progressiva diferenciação que engendra os seres.

Na doutrina taoísta, o Absoluto como ponto de partida é referido como o Tao sem nome, Ch’ang. Do Tao sem Nome, o Zero, o Absoluto, surge o Um, a Unidade Primordial, o Ser como princípio de todos os seres. Para se manifestar, a Unidade se polariza, surgindo dois princípios, o pólo ativo designado por vários nomes conforme cada Tradição, como Purusha, Yang, o Céu, o Pai, a Essência, e o pólo passivo, Prakrti, Yin, a Terra, a Mãe, a Substância. Da união, casamento sagrado (hierogamós) entre os dois princípios brotam os dez mil seres, simbolizando a multiplicidade do mundo manifesto, como cardumes de peixes que pululam dentro das águas cósmicas. Da união dos pólos principiais brota a Existência cósmica, com sua hierarquia de estados do Ser, os seres, sem que estes princípios participem diretamente da existência. Suportam toda a existência, mas não existem como princípios puros dentro da existência fenomênica.



Estas primeiras considerações já descortinam a distância entre a concepção cosmogônica tradicional e as interpretações das ciências modernas. Estas reduziram-se a noções quantitativas, com as quais pretendem explicar a gênese do Universo, como a hipótese do Big-Bang e o evolucionismo, sob a alegação de buscarem o fundamento da Verdade na própria “matéria”, termo este que não aparece em nenhum corpo teórico tradicional, e que tem sido questionado também pela própria Física quântica sobre sua veracidade e significação (1).

Nas tradições que explicitam a gênese da Existência, como o Hinduísmo, as tradições semíticas e muitas outras, o Homem é o intercessor, o Filho predileto deste casamento entre o Céu e a Terra. No Taoísmo, isto é simbolizado pela figura do Imperador, cujo ideograma é Wang. Neste ideograma, o traço horizontal superior designa Tien, o Céu; o traço horizontal inferior é Ti, a Terra; o traço horizontal mediano, que é menor, é Jen, o Homem primordial, e o traço vertical é o eixo transcendente.


Observemos que o ideograma Wang têm quatro traços. De acordo com a simbologia das ciências tradicionais, “o Quaternário configura a expansão total, simbolizada pela cruz, na qual os quatro ramos são formados por duas retas indefinidas retangulares. O quaternário é o número do Verbo manifesto, de Adam Kadmon” (2). Portanto, quando as Tradições teístas afirmam que o homem ocupa um lugar central no Cosmos, ou dito nos termos de Gênese bíblica, que Elohim criou, por sua Palavra e Ordem - “seja!” (kun), o homem à Sua imagem e semelhança, não é do homem individual que se trata, mas do Homem Universal - al-Insan al-Kâmil, Adão Kadmon, o Homem Transcendental, Tchen Jen - o arquétipo de toda manifestação. Eu (Deus) era um tesouro escondido; Quis ser conhecido, e Eu criei o mundo, diz um hadith (palavra divina) islâmico. Adão como a claridade do espelho no qual Deus irá manifestar Seu mistério a Ele mesmo: “Este ser adâmico foi chamado Homem (insan) e Representante (khalifah) de Deus. Quanto à sua qualidade de homem, ela designa sua natureza sintética (contendo virtualmente todas as outras naturezas criadas), e sua aptidão de enlaçar todas as Verdades essenciais” (3).


Conta o mito da criação do universo e do homem, segundo a tradição bambara do Komo, uma das grandes escolas de iniciação do Mande (Mali, África):

“ ‘Maa Ngala é a Força infinita.
Ninguém pode situá-lo no tempo e no espaço.
Ele é Dombali (Incognoscível)
Dambali (Incriado – Infinito)
(...)
Não havia nada, senão um Ser.
Este Ser era um Vazio vivo,
a incubar potencialmente as existências possíveis.
O Tempo infinito era a moradia desse Ser-Um.
O Ser-Um chamou-se de Maa Ngala.
Então ele criou ‘Fan’,
Um Ovo maravilhoso com nove divisões
No qual introduziu os nove estados fundamentais da existência.
Quando o Ovo primordial chocou, dele nasceram vinte seres fabulosos
que constituíram a totalidade do universo, a soma total
das fontes existentes do conhecimento possível.
Mas, ai!, nenhuma dessas vinte primeiras criaturas revelou-se apta
a tornar-se o interlocutor (kuma-nyon) que Maa Ngala havia desejado para si.
Assim, ele tomou de uma parcela de cada uma dessas vinte criaturas existentes e misturou-as;
então, insuflando na mistura uma centelha de seu próprio hálito ígneo,
criou um novo Ser, o Homem, a quem deu uma parte de seu próprio nome: Maa.
E assim esse novo ser, através de seu nome e da centelha divina nele introduzida,
continha algo do próprio Maa Ngala’.

Síntese de tudo o que existe, receptáculo por excelência da Força suprema e confluência de todas as forças existentes, Maa, o Homem, recebeu de herança uma parte do poder criador divino, o dom da Mente e da Palavra ”(4).

A queda do homem, segundo uma interpretação mais profunda dos textos da Gênese bíblica, designaria este processo de diferenciação, de afastamento, de distinção da Unidade primordial, cuja expressão mais ilusória é a individualização, a armadilha do ego. As doutrinas tradicionais que explicitam uma Cosmogênese partem do Princípio Supremo para a diferenciação que engendra a Existência, para daí indicar os caminhos de re-integração, à imagem de um triângulo cujo vértice, o Princípio, está acima e se abre em diferenciação para baixo. Uma doutrina não-teísta, como o Buddhismo, evitará muito da discussão cosmogônica, por considerá-la uma fonte de possível apego e teoricismo. Buddha usa o exemplo de um homem que recebe uma flecha envenenada. Alguém o socorre, mas o homem não quer que a flecha seja retirada antes de saber quem lançou a flecha, se era alto ou baixo, se estava longe ou perto, e tantas outras perguntas e acaba morrendo. Por isso, a ênfase budista é cuidar diretamente do caminho ascendente de Liberação. A imagem agora seria o triângulo com o vértice em baixo, simbolizando o homem, e abrindo-se para cima, para a Liberação (5).

Compreendida essa diferença de ângulo, as tradições são unânimes em afirmar que o homem ocupa, na Roda da Existência, uma posição muito especial em relação aos outros seres. Posição especial em potencial. Buddha ensinava ser de extrema riqueza, e de muitos méritos acumulados, o fato de seres terem nascidos no estado humano. É tão raro, dizia, quanto estarmos no meio do oceano, dentro de um pequeno barco, e descobrirmos um grande furo no fundo dele, por onde está entrando água, e de repente vemos lá longe uma tartaruga vindo, se aproximando, entrar por baixo e com seu casco tapar o buraco e conduzir o barco a salvo até uma costa segura a muitas léguas de distância. Raro e importante é ter nascido no estado humano, pois esse estado é muito propício para podermos nos libertar da prisão do Cosmos, alcançar a Iluminação diretamente a partir deste estado. Os demais seres, mesmo os celestiais devas, embora possam se iluminar a partir desses estados, devido aos seus apegos que esses estados prazeirosos permitem experienciar, terão mais dificuldades para aprender a Verdade, o Dharma, e com isso escaparem da roda de renascimentos, samsara. Quando Siddharta Gautama alcança o estado de Buddha, Libertação e Iluminação, e, refletindo sobre a incapacidade dos homens de entenderem o Dharma, decide não abrir o ensinamento do Caminho, os devas, que haviam descido dos céus para aprenderem os ensinamentos para a libertação, caem em profundo estado de inquietação e desolação. Do mesmo modo é dito que, quando da proximidade de um Bodhisattva se tornar um futuro Buddha, descendo ao estado humano, os devas dos dez mil sistemas de mundo rogarão ao Bodhisattva que nasça entre os humanos para ensinar-lhes o alívio de suas dores, o Caminho da iluminação.


O ser, em seu estado humano, possui a qualidade intelectiva que lhe permite despertar do sono da ignorância e realizar-se como um Buddha. A palavra Buddha deriva da raiz sânscrita Buddh, que significa conhecer, despertar. Essa qualidade intelectiva que o homem tem lhe permite experienciar e compreender os dois extremos do prazer e da dor na existência samsárica, e com isso, a possibilidade do desapego e libertação definitiva dos ciclos samsáricos do nascer e morrer. Para os demais seres, outros obstáculos se colocam: os seres celestiais, pelo fato de experienciarem muitos prazeres nesses estados, se intoxicam nessa experiência, que os dificultam ver a impermanência desses estados. Os seres que vivem nos estados infernais, por experienciarem muito sofrimento, terão de esgotarem muitos de seus karmas negativos até alcançar o nascimento no estado humano.

Nascer como ser humano é ao mesmo tempo de extrema riqueza e de difícil responsabilidade, de um perigo igualmente extremo. Nas perspectivas das tradições teístas, essa responsabilidade se estende ao destino do Cosmos. É dito nos relatos islâmicos que, ao criar o mundo, Allah convocou todos os seres e perguntou qual deles aceitaria ser seu representante a sustentar o mundo. Todos recuaram aterrorizados diante de tal responsabilidade, só o homem aceitou o compromisso. Todas as qualidades divinas estão sintéticamente dentro do homem, por isso o homem pode conhecer o Absoluto conhecendo a si mesmo.

Por esta condição central no Cosmos, é dito que mesmo os Anjos, por não possuírem a natureza integral de Adão, se curvam diante do Homem. Deus, ao criar à sua semelhança Adão Kadmon, o arquétipo da Humanidade, chamou-o e disse-lhe que desse nome a todos os seres, e Adão dava os nomes conforme as qualidades de cada ser que ele reconhecia dentro de si. E este era o nome. Nome como númen, halo de inteligibilidade que irradia de cada coisa, a natureza de cada coisa. O homem é um pequeno cosmos, e o cosmos é como um grande homem, diz um ditado sufi, do esoterismo islâmico. Como síntese de todo o Cosmos, o homem tem dentro de si todos os seres, toda a realidade. Parcialmente em seu corpo, como se expressa analogicamente seu processo de desenvolvimento embriológico, mas isso de modo algum teria a ver com as deduções que o evolucionismo extrai a partir da observação do desenvolvimento embriológico humano. Seria uma relação de analogia no nível apenas corporal, mas é principialmente em sua mente (ou seja, no domínio dos princípios) que o homem tem dentro de si tudo que tem fora dele, por isso ele pode conhecer toda a realidade interior e exterior a ele. Dentro dele estão todos os seres, a borboleta, a árvore, a chuva, não como presenças corporais, mas principiais, como presença virtual espiritual. Por isso quando ele vê um ser, ele reconhece dentro de si uma afinidade. E ambos traduzem a manifestação desta Realidade Suprema. Disse um sábio chinês: sonhei certa vez que eu era uma borboleta, e quando acordei, eu não sabia se eu era um homem que havia sonhado que era uma borboleta, ou se eu era uma borboleta que havia sonhado que era um homem. É um, é outro, nem um, nem outro. Tanto ele quanto a borboleta, são manifestações da Realidade Última, o Princípio Supremo. Graças a esta capacidade intelectiva, o homem de uma sociedade tradicional organiza sua vida terrestre em função dessas correspondências simbólicas entre o Macro, o Microcosmos e os princípios transcendentes. Na aldeia de certos povos indígenas as casas estão dispostas segundo um círculo que se organiza em função do Centro gerador. Neste centro se localiza às vezes as assembléias onde se discutem as questões coletivas, como é o caso do warã entre o povo Xavante do Mato Grosso, ou a casa da pajelança. Por esse centro passa o eixo que liga o Céu à Terra. O ser humano, dentre todas as espécies, é o que por excelência se mantém verticalmente de pé.

Cada cosmologia tradicional possui suas práticas de realização espiritual. Nas cosmologias em que o mundo é visto como um símbolo do transcendente, recuperar a capacidade de ver e compreender o macro e o micro cosmos como símbolos teofânicos é essencial para o despertar da Sabedoria inerente ao homem. O homem é dentre os seres aquele que tem esta capacidade mais propícia. Sabendo usá-la, a vida passa a ser disposta de maneira saudável, tornando todos os pensamentos, falas e atos dotados das virtudes do rito e do símbolo e o diálogo interior-exterior, Céu-Terra poderá fluir com grande equilíbrio e harmonia. Essa compreensão oferecerá o alimento da real alegria para o ser humano, motivando-o a prosseguir na sua ascese e libertação espiritual.

Segundo as doutrinas tradicionais teístas, quando essa Cosmologia simbólica se enfraquece dentro do homem, sua condição e seu potencial de centralidade se invertem, e o homem fica abaixo dos animais, pois se estes vivem a Presença do divino dentro deles de forma intelectivamente mais passiva, preservam a pureza desta Presença passiva e jamais põem em risco o mundo. Já o homem, ao perder a compreensão de seu legítimo lugar e dever, perde o direito de Representante divino na Terra, e faz do dom do intelecto a arma da destruição de si mesmo e do mundo. Dotado desta capacidade intelectiva, a mente humana pode investigar seu interior e exterior. Em nossos tempos, a compreensão interior se estreitou, valorizando-se mais a tendência e curiosidade da expansão pelos espaços exteriores. Todas as doutrinas tradicionais são unânimes em afirmar que por esta capacidade intelectiva do homem compreender as verdades últimas, o estado humano tem um lugar especial no processo de realização espiritual. Segundo as doutrinas teístas, como o Judaísmo, o Cristianismo e Islamismo, a virtude e função fundamental do homem é trilhar e preservar sua condição de centralidade cósmica, este Ponto semente de mostarda que espelha o reino divino e cuja expansão cria o Cosmos. Procurem o Reino de Deus e o demais lhes será dado por acréscimo, diz o Evangelho.

Estar entre o Céu e a Terra, meio-anjo meio-animal, é o lugar do homem. Na perspectiva cristã, a crucificação do Cristo poderia ser estendida analogicamente para a condição humana. O homem está crucificado no ponto de encontro entre o braço horizontal e o eixo vertical da cruz. O braço horizontal simboliza os estados manifestos e condicionados do Ser, sua face efêmera e relativamente ilusória, o homem exterior, com todas suas alegrias e sofrimentos do impermanente. As faces como “múltiplos ‘planos de reflexão’ diferenciando a irradiação (al-tajallî) divina”(6) . O eixo vertical aponta e expressa o Transcendente, o homem interior. Neste ponto de cruzamento central e crucial, de agonia e glória, está o homem, cujo arquétipo no Cristianismo é o próprio Cristo, e cuja passagem pelo mundo desenha esta dupla natureza terrestre e celeste dos homens. Por isso a iluminação exige que cada homem realize em si o conhecimento horizontal dos mundos, com a dignidade e o dever de se saber humano, ser plenamente as qualidades do humano, e, concentrando-se neste ponto crucial, elevar-se verticalmente dos estados inferiores até o seu destino de Glória. Segundo as palavras do Cristo: Tome tua cruz e me siga.

Esta centralidade do homem, entretanto, é apenas virtual. Precisa ser efetivada, em ato. Quando o homem, com esta responsabilidade e dádiva meritória de sustentar sobre sua cabeça esta condição central, fraqueja e perde esta clareza e centralidade potencial, seja porque a sociedade obscurece a clara visão cosmológica dentro e fora do homem, não mais permitindo que ele compreenda isso, seja porque ele abre mão deste lugar de farol no escuro oceano tormentoso, em troca das aparentes vantagens do que é exterior - e essas duas razões estão interligadas - então ele e tudo que está em volta dele, a sociedade e os outros reinos também fraquejam e se obscurecem, a ignorância se espalha e amplia, o próprio Cosmos se decompõe junto com ele. O Reino divino se eclipsa, e o homem, reduzido à sua dimensão de apenas terrestre, se torna um objeto flutuante no mar disperso dos acréscimos fugidios.

Nas doutrinas não-teístas, como o Buddhismo, embora não se tenha a questão de um Deus criador, também aí se coloca para o ser humano a importância da consciência dessa sua capacidade de compreender a Verdade, o Dharma, e assumindo a profunda responsabilidade desta sua qualidade cognitiva, purificar sua mente dos venenos da avidez, do ódio e da delusão. É necessário, entretanto, ressaltar uma das diferenças importantes entre a visão budista e outras doutrinas espirituais. O Buddhismo não considera que o estado humano seja sinônimo de uma identidade individual permanente. Esse senso de um “eu” eterno e substancial é, na doutrina budista, apenas um senso ilusório, o que não significa um nihilismo, mas que o que temos de fato são apenas os cinco agregados da forma, sensação, percepção, pensamento e consciência, que iludem a mente como sendo um “eu”, de onde deriva o senso do “meu”, gerador do apego e do sofrimento. Essa noção budista do “não-eu”, anatta (na língua páli) é sutil e complexa, elaborá-la aqui estenderia demais esse texto, mas envolve a questão central: quem sou eu? Ou melhor dito: o que é este “eu” com quem nos identificamos e apegamos?

A ignorância sobre o estatuto ontológico de ser humano é de fato o grande obstáculo que mantém o ser humano preso à roda dos nascimentos, e, portanto, do sofrimento. Nesse sentido, a questão sobre como as ciências humanas definem a natureza humana e seu lugar no Cosmos é de importância fundamental para a construção dos modelos de orientação para o homem e a sociedade. Poderíamos nos perguntar o quanto certos modelos paradigmáticos das ciências humanas na modernidade, ao secularizarem suas interpretações sobre a natureza humana, não têm de fato contribuído para fortalecer esse desenraizamento espiritual do lugar do homem na sociedade e no Cosmos. Proposições ilusórias desta natureza têm consequências graves. A disciplina das Ciências da Religião, e a Metafísica e a Teologia, têm um compromisso vital, e sem hesitação, diria que se trata de um compromisso urgente, em trazer à luz a profundidade da sabedoria das doutrinas espirituais, não como uma imposição dogmática, mas um exame minucioso dos paradigmas ontológicos sobre o estatuto do homem. Pois é preciso todo esforço para se evitar o que não se pode mais ignorar: há muitas evidências de que persistindo-se neste caminho de cobiça e ignorância, se avoluma com rapidez os riscos de um desastre de proporções imprevisíveis.

Notas

(1) Sobre isto, ver Materia signata quantitate, Cap.II, in Le Régne de la quantité et les signes des temps, René Guénon, France, Ed. Gallimard, 1945.
(2) Guénon, René - pg. 63, 1976.
(3) Ibn’Arabi, Muhyi-D-Din - pag.27, 1974.
(4) Hampaté Bá – p. 184, 1982.
(5) Burckhardt, Titus - pg 168, 1958.
(6) Ibn’Arabi, Muhyi-D-Din - op.cit., pg 21.


Bibliografia

Burckhardt, Titus - L’Image du Bouddha, in Principes e méthode de L’Art Sacré, Derain, 1958. Cooper, J.C. – Yin eYang – A Harmonia dos Opostos, São Paulo, Martins Fontes, 1985.
Eliade, Mircea – Mito e Realidade, SP, Ed. Perspectiva, 1972.
____________. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
Guénon, René - Le Régne de la quantité et les signes des temps, France, Ed. Gallimard, 1945.
__________ Melanges, France, Ed. Gallimard, 1976.
Hampaté Bá, A. – A tradição viva, in História Geral da África, São Paulo, Ática; [Paris], Unesco, 1982.
Ibn’Arabi, Muhyi-D-Din - La Sagesse des Prophètes, (trad. e notas de Titus Burckhardt), France, Ed. Albin Michel, 1974.
Shaker, Arthur – Buddhismo e Christianismo. Esteios e Caminhos, Petrópolis, Vozes, 1999.
___________ A travessia buddhista da vida e da morte – Introdução a uma Antropologia Espiritual, Rio, Gryphus, 2003.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Sabor de viver o Presente Aqui Agora
um verdadeiro presente

Artigo na revista Bons Fluidos
maio 2010
participação Arthur Shaker - Casa de Dharma


*********

Eventos Maio 2010

Belo Horizonte
Centro Nobre Dhamma

Curso 19-20 maio
a Felicidade humana e os meios hábeis
de superação de seus obstáculos:
a Meditação budista e a Purificação de nossa visão
sobre a condição humana


São Paulo

Espaço Kurma
Palestra e Meditação 26 maio
19.30 - 21.45hs
Plena Atenção e Superação do Sofrimento

Forum África
25-31 maio
XIIa.SEMANA DA ÁFRICA


Brasilia

Sociedade Vipassana de Meditação

Palestra 28 maio
a Felicidade humana e a superação de seus obstáculos:
a prática da meditação Vipassana

Workshop 29 maio
a meditação Vipassana e a Libertação da mente:
cultivando as Oito Habilidades em nossa vida diária


Mais detalhes: em EVENTOS

segunda-feira, 10 de maio de 2010

POR QUE AS MUDANÇAS NOS ASSUSTAM?


POR QUE AS MUDANÇAS NOS ASSUSTAM?
Arthur Shaker - Casa de Dharma


Todos nós seres humanos queremos a felicidade, e lutamos para escapar do sofrimento. Temos projetos para nossa vida, compromissos com as nossas famílias, contas a pagar, sonhos a realizar. Tudo isso está dentro do mundo E este mundo vive atualmente um processo de grandes mudanças. E rápidas, e muito exigentes.

Como lidar com tudo isso?

Leia mais >>>